Arquitetura Moderna no Brasil – Pedregulho de Affonso Eduardo Reidy


O conjunto habitacional de Pedregulho em São Cristóvão, Rio de Janeiro, projetado por Affonso Eduardo Reidy, a partir de 1947, ganhou um prêmio na Bienal Internacional de São Paulo de 1953, por sua solução funcional e estética, que faz com que até hoje esse conjunto se destaque no panorama da produção dos arquitetos modernos brasileiros, em especial da chamada escola carioca.

vista aéreavista aérea do conjunto – Google Earth

Localizado no bairro de São Cristóvão, Rio de Janeiro, o Pedregulho compõe a face social da arquitetura de Reidy, ao lado da Unidade Residencial da Gávea (1952) e do Teatro Armando Gonzaga (1950), em Marechal Hermes. Um dos maiores nomes da arquitetura moderna brasileira, Reidy tem grande atuação como urbanista, participando de diversos projetos para a cidade do Rio de Janeiro, desde 1929, quando trabalha com Alfred Agache na elaboração do plano diretor da então capital federal. A partir de 1932, responsável pelos serviços de arquitetura e urbanismo da Prefeitura do Rio de Janeiro, envolve-se com uma série de soluções para a área central da cidade, das quais uma das mais famosas é a urbanização do Aterro do Flamengo. O Pedregulho, elogiado por Max Bill (1908 – 1995), em 1953, e por Le Corbusier (1887 – 1965) em sua passagem pelo Brasil, em 1962, marca um momento de reconhecimento internacional das obras arquitetônicas e urbanísticas de Reidy.

planta conjunto pedregulhoplanta de conjunto, que além das unidades habitacionais tem prédios com serviços públicos

vista conjunto pedregulhofoto de Marcel Gautherot – Instituto Moreira Salles

O Conjunto Habitacional Pedregulho abriga blocos residenciais e áreas de serviços comuns: jardim-de-infância, maternal, berçário, escola primária, mercado, lavanderia, centro sanitário, quadras esportivas, ginásios, piscina, vestiários e centro comercial. Na concepção arquitetônica do complexo, com 328 unidades, cada obra é definida por um volume simples, integrado a um conjunto mais amplo, onde a forma indica a diferença de funções: o paralelepípedo destina-se aos prédios residenciais; o prisma trapezoidal aos edifícios públicos; e as abóbadas, às construções desportivas. A intenção de manter a vista da baía de Guanabara para todos os apartamentos leva Reidy a projetar uma grande construção sobre pilotis, que dribla o declive natural da área pelo uso de passarelas, e uma avenida posterior no topo do terreno, recursos que dispensam elevadores. Os pilotis de alturas variáveis constituem outra solução original empregada em função dos desníveis do solo. A peça-chave de todo o conjunto é o grande edifício construído no alto, de planta serpenteada, que acompanha as condições naturais do terreno.

arquivo portinhoFoto de Carmem Portinho

pedrebloco residencial – foto de 2008

website cosmopista – foto de Pedro Vanucchi

pedre2escola e academia foto de 2008

website cosmopista – foto de Pedro Vanucchi

pedre3vista do painel de azulejos – 2008

website cosmopista – foto de Pedro Vanucchi

Especial atenção é concedida ao conjunto escola-ginásio-vestiários, considerado a obra mais original do complexo. A escola de Pedregulho é concebida como um prisma trapezóide montado sobre pilotis, com amplo pátio coberto no térreo. As salas de aula, localizadas na face sul, dão para um terraço particular. Os contatos do interior com o exterior são intensificados pelo uso de portas-janelas e de lâminas de vidro. A fachada inclinada garante a luminosidade e as aberturas no topo das divisórias entre as salas e o corredor asseguram a ventilação, também reforçada pelo emprego de uma trama de cerâmica no limite do corredor. A escola encontra-se integrada às dependências esportivas pelo desenho da cobertura e pelos contrapontos formais acionados: os arcos e o fechamento do ginásio contrastam com o traçado reto e com a arquitetura vazada das escolas. Como elemento decorativo, um grande painel de azulejos feito por Candido Portinari (1903 – 1962) para o ginásio.

conjunto flickrvista do conjunto em foto do Flickr

Os jardins do conjunto foram projetados por Roberto Burle Marx. O elemento mais significativo da composição, é contudo o bloco residencial maior, assentado no topo de um terreno extremamente íngreme. O conjunto possui 7 pavimentos elevados sobre pilotis e uma forma sinuosa, é longo (260 m), curvando-se para acompanhar as mudanças de nível do terreno. O edifício não tem elevadores; todos os acessos são por escadas, as entradas estão no pavimento térreo ou no 4º pavimento, onde duas passarelas conectam a parte mais alta do pavimento térreo à colina. O 4º pavimento é um espaço parcialmente aberto, tem um parque infantil, escritórios de administração municipal e uma escola infantil com sala para os professores.

painel portinariPainel de Portinari

website ceramicanorio.com

detalhe painel portinaridetalhe do painel

website ceramicanorio.com

Nos níveis inferiores há apartamentos pequenos de 1 dormitório, e nos 4 pavimentos superiores há apartamentos duplex, geralmente com 2 dormitórios. O espaço sob o edifício e a área aberta no 4º pavimento fornecem circulação de ar e um espaço aberto sombreado, muito importante devido ao clima quente local. Os corredores de acesso são largos o suficiente para serem ocupados e estão parcialmente fechados com elementos vasados de cerâmica, para fornecer sombra e manter a ventilação. Todos os cômodos dentro dos apartamentos têm janelas, dispostas de forma a permitir ventilação cruzada. As unidades estão organizadas aos pares, divididas por uma parede perpendicular alternada por pilares estruturais. Estes pilares seguem a curva em planta e são fechados por paredes oblíquas ou armários embutidos.

planta baixa apts pedergulho

corte apts pedregulho

detalhe cj pedreedifício residencial – 2008

website cosmopista – foto de Pedro Vanucchi

detalhe cj pedre2rua interna elevada

website cosmopista – foto de Pedro Vanucchi

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A importância of being reidy

veja o Conjunto no filme Central do Brasil de Walter Salles (video abaixo)

17 pensamentos sobre “Arquitetura Moderna no Brasil – Pedregulho de Affonso Eduardo Reidy

  1. Grata… mas ele é inspirado em vários outros textos que li na web sobre o Pedregulho.

  2. NÃO SOU MORADORA DESSE COMPLEXO. COMO CARIOCA GOSTARIA DE PEDIR QUE ESSE LOCAL FOSSE CONSERVADO NA ORIGINALIDADE TOTAL DE SUA CONSTRUÇÃO.ESTÁ EM PÉSSIMAS CONDIÇÕES DE CONSERVAÇÃO,UMA PENA. SERIA TÃO BOM QUE ESSE MODELO DE MORADIA FOSSE SEGUIDO POR NOSSOS GOVERNANTES E NÃO ESSAS HABITAÇÕES POPULARES QUE ESTÃO ENTREGANDO AOS MENOS FAVORECIDAS.

  3. Muito util o trabalho, resume bem sem deixar nada para trás.
    Mas precisava para um trabalho da Faculdade de uma planta que explicasse a circulação melhor. sabe onde consigo? como funciona do pilotis central para a parte mais baixa? a ciculação é boa? é longe? a minha escala grafica não está me dizendo muito…=/ tinha que analisar a questão do bioclimatismo e acessibiladade do prédio, e se necessário propor adequaçoes as novas normas.
    se o pessoal que vai visitou o complexo puder me contar^^
    bjs

  4. Cecília, parabens tardiamente pelo post. Eu enviei ao geólogo Alvaro Santos por conta de um artigo que ele trata da questão dos limites geotécnicos e deva alguns exemplos. Este conjunto é um excelente exemplo! Bjs

  5. Interessantíssimo trabalho.Me ajudou muito nas pesquisas para um trabalho final de uma disciplina de História no curso de Arquitetura e Urbanismo, aqui na FAU-UFC.

    grato.

  6. Oi, estou fazendo um trabalho de habitação social e peguei como tema o Pedregulho, estou indo para o Rio afim de visitar e colher informações, quem me puder passar dicas e informações agradeço.

    Abraços.

  7. gostei muito do site, bem completo, será bastante útil p/ trabalho da facu sobre habitação social

  8. Ah, Mila, passa algumas dicas para mim!!! Gostaria de publicar alguma coisa aqui no blog, se não for atrapalhar vocês. Abraços, 😉

  9. Voltei aqui pra dizer que consegui visitar o conjunto…
    Fui acompanhar a gravação de um documentário no Pedregulho, do diretor Jurandir Muller. Foi uma imersão de 24 hs com a cãmera ligada full time. Colhemos 20 entrevistas de moradores.
    Tem gérmens potentes de políticas sociais no Pedregulho que estão imersos na invisibilidade e no preconceito. Claro que tem problemas também, mas é uma beleza.
    E a arquitetura! É LINDO!

  10. Muito bom a postagem,
    fui ao Rio com intenção de visitar o Pedregulho
    porem é muito complicado fazer isso la hoje em dia…

    abçs

  11. Amei a postagem! Me ajudou muito!!!!!!
    Obrigada!!!
    Parabéns pelo trabalho!

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