São Luiz do Paraitinga – São Paulo – Brasil


Vista geral da cidade – foto de Nilson Kabuki no Panoramio

(minha homenagem aos moradores dessa cidadezinha tão querida aos paulistas que em 1º de janeiro de 2010 foi inundada pelo Rio Paraitinga, por causa das pesadas chuvas que caíram no Estado na passagem do ano)

vista aérea de São Luis do Paraitinga – imagem Google Earth

vista de São Luiz do Paraitinga – foto antes da enchente de Erasmo Arrivabene no Panoramio

A história de São Luiz do Paraitinga começou a ser delineada em 1688 com a concessão das primeiras sesmarias nos sertões do rio Paraitinga. No século 17, quando os bandeirantes se dirigiam ao sertão atrás de indios, depois atrás de pedras preciosas e ouro, o vale do Rio Paraíba se constituiu como importante área de penetração para o interior. Por causa disso foram surgindo na região alguns núcleos de povoamento, como Taubaté, Jacareí ou Mogi das Cruzes, que serviam como pontos de abastecimento das bandeiras. As tropas de burro levavam o ouro para o litoral e traziam de volta ferramentas, alguns tipos de alimentos e mercadorias que não havia no interior. Com a entrada da cana de açúcar no vale do Paraíba, esses núcleos foram adquirindo maior importância.

A fundação do povoado de São Luiz do Paraitinga ocorreu no século 18. Em 2 de maio de 1769, foi criada a freguesia de São Luiz do Paraitinga na vila de Taubaté, juntamente com outros 30 povoados autorizados pelo governador Morgado de Mateus.Foi justamente a necessidade de tornar mais racional a ocupação das terras, para permitir o aumento da produção agrícola, que levou o governador da capitania a autorizar a fundação desses povoados. Além de Paraitinga, foram fundados nessa época São José dos Campos, Caraguatatuba, Paraíbuna, Campinas e Piracicaba, entre outros. Em 1769 foi nomeado o sesmeiro Manoel Antônio de Carvalho como fundador de Paraitinga.

São Luiz do Paraitinga deve seu nome ao padroeiro, São Luiz, e ao rio Paraitinga, onde ficava o entreposto utilizado pelos Bandeirantes. A localização geográfica facilitava o comércio e logo uma parte da produção agrícola começou a ser vendida nos núcleos próximos, fazendo com que a cidade se desenvolvesse e em 9 de janeiro de 1773 fosse elevada à vila, com a instalação de um pelourinho. Possuía então 52 casas e muitas outras em construção, e em 1774 um censo informava que ela já tinha 800 pessoas.

Vista aérea da praça e entorno, infelizmente coberta nessa imagem por algumas nuvens

Imagem Google Earth

Planta do centro histórico de São Luiz do Paraitinga – clique para ampliar

Desenho em publicação da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo

Desde sua fundação os moradores tinham devoção à Nossa Senhora das Mercês, e para abrigar a imagem da santa construiram uma capela no final do século 18, que foi inaugurada em 1814.

Capela Nossa Senhora das Mercês – destruída pelas águas

foto do blog Meu Observatório – para ver mais fotos dessa igreja clique aqui

A substituição da cana de açúcar pelo café no século 19, permitiu ao Vale do Paraíba enriquecer, e a partir daí surgiram as grandes fazendas com centenas de escravos.  São Luiz do Paraitinga não foi um local onde o café prosperou, de fato houve uma diversificação na produção de produtos agrícolas que eram consumidos em outros locais, e sua localização geográfica, entre o vale e o porto de São Sebastião, fizeram com a cidade fosse um local onde passavam as tropas de burros, usadas para levar o café para o porto, e isso acabou atraindo população para lá, levando a cidade a ter em 1870 cerca de 9.000 habitantes, entre escravos e cidadãos livres. Nessa época ela já tinha sido elevada a cidade, o que ocorreu em 30 de abril de 1857.

Seu centro urbano, formado durante essa fase, constitui o patrimônio cultural da cidade. Encravada no meio da Serra da Mar, entre as cidade de Taubaté e Ubatuba, a cidade de São Luiz do Paraitinga abriga o maior conjunto arquitetônico tombado do estado de São Paulo. Esse inestimável patrimônico histórico/cultural é a herança desse período de riqueza vivido no século XIX, quando a cidade ficou conhecida como “celeiro do Vale do Paraíba” por ter se dedicado à agricultura de feijão, milho e mandioca, enquanto o resto do estado priorizava a cultura do café.

Vista do casario do centro histórico com destaque para a Igreja Matriz, também destruída pelas águas

Foto de Erasmo Arrivabene no Panoramio

Construções do período colonial, predominante no século XIX, resistem ao lado de edificações com estilos do eclético do início do século XX. A preocupação das autoridades do século 19 com obras públicas ainda é visível em alguns trechos de ruas calçadas com pedras, nos muros de taipa que margeiam a antiga “trilha dos Tamoios”, que era o principal caminho das tropas, e hoje é a Rua Floresta. Também o chafariz da Praça do Rosário é exemplo dessas obras.

Chafariz da Praça do Rosário – foto de Erasmo Arrivabene no Panoramio

A cidade do século 18 foi construída em taipa, técnica de construção tipicamente paulista no Brasil, uma vez que não havia pedra em abundância para as construções, e o barro, misturado com estrume e sangue de animais para dar a liga, era socado entre pranchas de madeira – a taipa de pilão, ou mesmo a chamada taipa de mão – ou pau-a-pique, como é conhecido, uma trançado de madeira e cipós, preenchido com barro. em sopapo. Essas paredes de taipa eram assentadas sobre alicerces também de terra, e cobertas com telhados de telhas de barros, de 2 ou 4 águas, mas sempre com grandes beirais, para proteger as paredes das águas da chuva, porque a água é a maior inimiga da taipa, como vimos em São Luiz do Paraitinga.

A ilustração mostra como era montado o taipal, no interior das pranchas de madeira o barro era socado

Desenho do Dicionário de Arquitetura Brasileira de Corona & Lemos

Os casarões de taipa, com sacadas, janelas tipo “guilhotina” e portas com bandeiras de ferro trabalhado representam o modo de vida dos moradores mais ricos de São Luiz do século 19, que reproduziam os modelos do Rio de Janeiro, da corte, adaptando-os as possibilidades do local. Localizados principalmente no entorno da Praça Oswaldo Cruz e ruas adjacentes, os casarões contrastam com as casas térreas da Rua do Carvalho e da Praça do Rosário, onde viviam as famílias menos abastadas e eram feitas de pau-a-pique.

Casarões da Praça da Matriz – foto de Ismar Francisco Ribeiro no Panoramio

veja os detalhes ecléticos das bandeiras das portas e dos guarda-corpos das sacadas

foto de Murilo S Romeiro no Panoramio

Casas das famílias menos abastadas – Praça do Rosário

foto de Agnaldo Bastos no Panoramio

A mais antiga construção da cidade – A Centro Cultural Oswaldo Cruz, foi construída em 1834, e era uma antiga casa de fazenda, onde nasceu Oswaldo Cruz. Foi tombada pelo SPHAN, órgão de patrimônio histórico federal, e transformada em museu. A igreja matriz, dedicada a São Luiz de Tolosa, e que desabou com a enchente, foi construída no século 19 e é um elemento que demonstra a importância da religião na vida da cidade, onde o povo ainda se reúne para celebrar a festa de Reis e a festa do Divino (Pentecostes), que viraram atração turística da cidade. Estes festejos já eram realizados no tempo da Colônia de do Império.

Antiga casa de Oswaldo Cruz, hoje Centro Cultural

foto de Murilo S. Romeiro no Panoramio

Igreja Matriz São Luis de Tolosa – destruída pelas águas

foto de Eric Mancinelli no Panoramio

detalhe do frontão da Igreja Matriz, enfeitada para a festa do Divino

foto de Erasmo Arrivabene

O Mercado Municipal foi construído em 1902, e mostra em linhas gerais o feitio das construções públicas do início do século 20.

Música no mercado municipal de Paraitinga – Fabiana Cozza se apresenta em foto do Estadão on line

A transferência gradual dos cafezais para a região oeste do Estado de São Paulo, no século 19, a abolição da escravatura e o esgotamento das terras do Vale do Paraíba, mudaram totalmente a vida de São Luiz do Paraitinga, que parou no tempo. Restou o orgulho da população, dessa história e de seu patrimônio cultural e arquitetônico, grande parte dele arrasado pelas águas de janeiro, mas que com a determinação de seus moradores e com a ajuda de todos os paulistas e brasileiros, haverá de ser reconstruído. Salve São Luis do Paraitinga!!!!

Uma rua da cidade enfeitada para o Carnaval

foto de Marcelo Parise Petaz no Panoramio

Foto do Casario da Praça da Matriz também enfeitada para o Carnaval

foto de Nilson Kabuki no Panoramio

casa colorida de São Luis do Paraitinga

foto de Clair Souza no Panoramio

A Festa do Divino e o Pau de Sebo

foto de Erasmo Arrivabene no Panoramio

Outra vista da cidade

foto de Erasmo Arrivabene no Panoramio

O Rio Paraitinga, no trecho em que margeia o centro histórico

foto de Marcelo Parise Petaz no Panoramio

Rua Barão – foto de Ronaldo Dalton Fernandes no Panoramio

Lojinhas com o artesanato local – foto de CzHenrique no Panoramio

Veja o beiral da casa, protegendo a taipa – foto de Chico Costa no Panoramio

Festa do Divino – foto de Erasmo Arrivabene no Panoramio

Festa do Divino – Erasmo Arrivabene no Panoramio

Bonecos Gigantes do Carnaval de São Luis de Paraitinga

foto de Alexandre Medeiros no Panoramio

Foto de Alexandre Medeiros no Panoramio

O Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT) divulgou parecer técnico sobre edificações em São Luiz do Paraitinga, atingidas por enchentes no dia 1ª de janeiro. Segundo a análise, cerca de 300 edificações foram afetadas pela enchente.  Das 80 construções já avaliadas que pertenciam ao patrimônio histórico, cerca de metade precisará passar por obras de restauração, incluindo 28 casas que ficavam na área de entorno do coreto da cidade. A igreja Matriz e a Capela das Mercês, ambas do século19,  foram destruídas.

Além disso, o prédio da Prefeitura terá que ser restaurado em cerca de 50% da edificação. A construção que abrigava a biblioteca da cidade também ruiu completamente.

De acordo com a avaliação dos técnicos, o nível do rio Paraitinga chegou a subir 10 metros com os 160 milímetros de chuvas que caíram no intervalo de 24 horas. Com a inundação do Fórum e do cartório da cidade, os registros históricos de São Luiz do Paraitinga correm o risco de serem perdidos. No momento, a prioridade é com a segurança estrutural das construções remanescentes e das encostas e taludes nas áreas urbana e rural.

Você tem fotos de São Luis do Paraitinga e quer colaborar com a reconstrução da cidade? Uma idéia é postar suas fotos no Google Earth, assim restauradores e órgãos do patrimônio poderão usá-las na reconstrução dos imóveis que foram destruídos pelas águas. Coloque lá, suas fotos ficarão fazendo parte do site Panoramio, onde fui buscar essa belas fotos dessa matéria. 😉

(se você quer ver como era a cidade e como a enchente a deixou clique aqui)

9 pensamentos sobre “São Luiz do Paraitinga – São Paulo – Brasil

  1. essa cidade tem para mim uma grande importancia porque foi do trempo de minha bis avó india luiza maria e todos os meus antepassado mae pai e avos e um dos erdeiro de seimaria do tempo dos iscravos indios e senhores colonizadores e esploradores e toda fam. maria fam de lobo e fam alexe

  2. Claro que a gente fica triste de algo assim acontecer numa cidade histórica como São Luis, mas, sinceramente, a igreja que vá a merda, dinheiro é o que eles mais tem, agora vão ficar 50 anos fazendo campanha pra reconstruir, tipo catedral de Aparecida, não acaba nunca porque sempre tem uns manés pra colaborar$.
    Estarei em San lous em carnaval 2012.

  3. Muito legal a coletânea, apesar de não ter conhecido a cidade, fiquei muito consternado com tudo que ocorreu, principalmente a perda irreparável das igrejas, já existe algum projeto em andamento para a sua reconstrução? Seria muito legal ver tudo como era antes. Parabéns pelo trabalho.

  4. Giovana não sei a data exata do mapa, mas ele é do começo da década de 80… algo como 1982 seria uma boa aproximação.

  5. Olá! Gostei mto do blog! Estou fazendo um trabalho sobre Paraitinga e encontrei informações que ainda não tinha.

    Vc sabe me dizer, por acaso, de que data é a planta do centro histórico?

    Vou utilizá-la em meu trabalho!

    Obrigada!

  6. RELIQUIA uma cidade que mantem suas tradições com harmonia, competencia e dedicação. São Luis do Paraitinga conserva a identidade da história e pessoas que por la vivenciam cada acontecimento.

    Acredito na recuperação dessa Historia, desse povo e principalmente na superação de econtro com o crescimento, mas fincado nas raizes e valores.

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